terça-feira, 6 de outubro de 2009

Resumo Lousã

Eu tinha dúvidas acerca daquela prova, pois sempre ouvi dizer que era horrível. Tenho a dizer que a sensação de estar no meio de 500 pessoas armadas até aos dentes, e “preparadas” para o que vinha, era no mínimo estranha. Eu já tenho o “calo” da competição. Estar no “gate” a ouvir os bips, a aguardar para explodir, mas ali nada tinha a ver com isso. Ali, ao contrário das provas de DH, em que tens no máximo 4 atletas em pista, e a possibilidade de encontrar algum deles ser remota, era totalmente o oposto. Cerca de 500 inscritos, a somar todos os outros que iam atrás do pelotão a recolher os despojos de guerra, que nem abutres.

O tempo de espera, o olhar para todos os que estão á volta, e saber que vale tudo menos tirar olhos, põe qualquer coração a bater de forma acelerada. No meu caso, sendo a minha 1ª vez na Avalanche, não tinha grande noção do que me esperava. Tinha 150 pessoas a minha frente, distribuídas por 6 filas, estando eu na 7ª fila, e não sabia bem como os iria passar, e tinha de os vencer pois o meu objectivo era passar pelo menos 100 pessoas.

Passado muito tempo de espera, finalmente se ouve o sinal para a partida. “5 MINUTOS!” dizia Carlos Pires. O coração acelera cada vez mais. As linhas para o arranque estavam marcadas. Já sabia o que fazer para avançar o mais rápido possível. “3 MINUTOS” e começa-se a ouvir os motores a bombear. “1 MINUTO!” e coloca-se os goggles. “30 SEGUNDOS” agarra-se o guiador. Ao som do tiro, desliga-se o botão na nossa mente, e a partir daí só vemos gente, pó, e por mais gente que vemos, só queremos é estar a frente deles. Todos os planos que tinham sido elaborados anteriormente, eram agora, inúteis. Salve-se quem puder. Pelo caminho encontramos zonas de acidentes com bikes e atletas encarcerados, no meio dos estradões, onde se circula com as mudanças já esgotadas. Garantidamente, cair, ali, não é bonito.

Ao continuar o meu caminho, mais e mais gente ficava para traz. O meu corpo começava a dar sinais de fadiga, o pó acumulava-se na boca e aquele sabor a sangue na garganta começava a sentir-se. Passados os estradões, entramos nos single tracks. Aqui é mais complicado ultrapassar. Temos que contar com as quedas dos outros, e fazer pressão para que isso aconteça. Consegui passar toda a gente até ao ponto em que encontrei um daqueles que pedala que nem um doido no estradão, mas no single track é uma miséria. Depois de por eu a pressão nos outros, foi a minha vez de cair. Nada de grave, pois seguia isolado a perseguir o outro individuo. Passados 50m lá estava eu de novo na roda dele, mas nada podia fazer para o passar, e assim foi até ao fim dos single tracks, onde depois ataquei e finalmente o passei.

Chegando a meta isolado, não tinha a mínima noção se tinha cumprido o objectivo. O cansaço era muito. As pernas não davam mais. Os braços eram dois apêndices que para nada serviam. Mesmo assim tudo parecia o paraíso. Reloutes vermelhas com uns quantos barris la dentro, porcos no espeto, e uma pulseira que me dava acesso a tudo isso sem restrições. Ao ver isso, posso dizer que o corpo voltou á vida.

Em conclusão, arranquei em 155 e cheguei em 37. Objectivo cumprido, com sede para mais. No próximo ano tenho lugar reservado na 2ª fila, inscrição grátis, e aquela bela pulseira… É a coisa mais estúpida, mais perigosa, melhor que já fiz em toda a minha vida.

RECOMENDO

Neste video podem ver a avalanche na sua totalidade, e no arranque, olhem para a direita e reparem na bike amarela. Sou eu.